Mãe solo, artista, cozinheira, escritora e ilustradora, Rita Taraborelli vive entre tintas, panelas e palavras, buscando sempre um ponto de equilíbrio entre a criação artística e a vida prática. “Eu sou uma artista, sempre fui. Mas isso foi tomando formas diferentes conforme a vida foi acontecendo”, diz Rita.
“Já trabalhei em restaurantes, já cozinhei em lugar fino, já cozinhei em bar. Hoje, sou ilustradora, escrevo livros infantis, livros de receita, mas tudo isso tem o mesmo motor: a vontade de comunicar, de transformar uma ideia em algo que toque as pessoas.”
Rita Taraborelli é uma multiartista sorocabana (Foto: Mateus Machado)
A infância como semente criativa
Rita cresceu em um ambiente artístico. Sua mãe, artista plástica, foi não só uma inspiração, mas uma referência concreta de que era possível viver de arte. “Minha mãe pintava. Ela era muito talentosa. E ela me deu, sem perceber, a noção de que isso era viável. Eu via ela acordar e ir pintar. Às vezes, ela nem tomava café. Ia direto pro ateliê. Dormia pintando. Isso mexe com você. Você entende que viver da sua arte não é um devaneio. É possível.”
Essa herança moldou seu modo de pensar. Desde cedo, Rita entendeu que ideias só ganham força quando saem do plano abstrato. “O mundo das ideias é maravilhoso, mas se você não traz isso pro mundo natural, fica só um sonho. E eu gosto de realizar. Gosto de pegar uma ideia e fazer com que ela exista, mesmo que seja com as ferramentas que eu tenho à mão.”
A mãe de Rita possui uma homenagem no Jardim Botânico de Sorocaba (Foto: Mateus Machado)
Da cozinha ao papel
Sua relação com a comida começou de maneira prática e afetiva, ainda jovem, cozinhando em casa por necessidade e prazer. “Eu me formei em gastronomia. A cozinha chegou na minha vida como um trabalho mesmo, mas também como um lugar onde eu me sentia inteira. Era onde eu me expressava.”
Foi em São Paulo que ela deu os primeiros passos profissionais na área, atuando como cozinheira em restaurantes e eventos. Ao mesmo tempo, passou a registrar as receitas que criava, anotar combinações de sabores, escrever memórias que se misturavam ao preparo dos pratos. Foi esse exercício informal que, aos poucos, a levou para o universo dos livros.
“Eu percebi que queria fazer um livro quando comecei a escrever sobre o que eu estava cozinhando. Não era só a receita, era a feira, o cheiro da cebola fritando, a lembrança de um jantar em família. Era tudo isso junto.” Esse impulso inicial resultou em uma série de obras que unem gastronomia e narrativa, todas publicadas de forma independente: Jardim Comestível, Paz, Amor e Granola e Flora na Cozinha
Cada um desses livros nasceu do seu cotidiano e da escuta atenta do mundo ao redor. Autodidata na escrita, Rita foi desenvolvendo sua linguagem própria com base na observação e no hábito da leitura. “Eu sempre li muitos livros de receita. Coleciono. Então, mesmo sem formação específica em literatura, fui encontrando minha forma de comunicar. Aprendi fazendo.” Esse movimento da cozinha para o papel não foi um rompimento, mas uma transição natural, como ela mesma define. “Hoje, estou mais ligada aos livros, mas a cozinha ainda mora em mim. Ela não saiu de cena. Só mudou de lugar.
Mãe solo, artista e mulher em tempo integral
O corpo da cidade, as cores das mulheres
O que vem agora?
Rita não para. Está envolvida com novos projetos de literatura infantil, pensa em novos livros de receitas, dessa vez, voltados para crianças, e sonha em voltar à pintura de telas com mais regularidade. “Eu ainda quero fazer muita coisa. E quero que tudo que eu faça tenha esse fio condutor de verdade. Quero falar sobre o que é real, o que é possível, o que é bonito, mesmo nas dificuldades.”
Perguntada sobre o que espera que as pessoas sintam ao ter contato com suas obras, Rita responde com calma, como quem já refletiu muito sobre isso: “Eu espero que elas sintam vontade de criar. De cozinhar. De cuidar de si. De lembrar das suas avós. De plantar uma semente. De desenhar com o filho. Eu quero que o que eu faço inspire. E que lembre, de alguma forma, que a vida pode ser bonita. Que a gente pode criar beleza, mesmo com pouco. Mesmo com cansaço. Mesmo sozinha.”







