2.12.24

A ascensão do trap na Região Metropolitana de Sorocaba: movimentos independentes que impulsionam a cultura jovem

Eventos na região movimentam a cena e atraem jovens de todas as cidades da RMS

Gustavo Hayga é uma das grandes promessas do gênero musical Trap na cidade de Boituva (Crédito: João Frizo)

Nos últimos anos, a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) vem se consolidando como um polo importante para a cena do Trap, um subgênero do rap que tem suas raízes na cultura de rua e em influências do hip-hop americano. O que antes era um estilo marginalizado, agora se transforma em uma das expressões musicais mais populares entre os jovens da região. A RMS, composta por cidades como Sorocaba, Votorantim, Boituva e outras, presencia um movimento crescente de artistas independentes que, sem apoio das grandes gravadoras, estão criando seus próprios espaços de divulgação por meio de eventos autônomos e o uso estratégico das redes sociais.


Ao contrário do circuito tradicional de shows, onde a presença de intermediários é forte, esses eventos surgem da iniciativa direta dos próprios artistas e produtores locais, que utilizam seus próprios recursos para viabilizar os festivais e apresentações. “Nós fazemos porque amamos a cultura e porque não há outro jeito. Não temos grandes produtores nos apoiando, então organizamos tudo entre nós”, conta Gustavo Hayga, uma das promessas desse movimento na cidade de Boituva.

Cultura de resistência
Esses eventos de Trap, apesar de seu sucesso crescente, enfrentam uma série de dificuldades. O principal desafio apontado pelos organizadores e artistas é a falta de infraestrutura adequada e de apoio financeiro. Muitos dos eventos ocorrem em locais improvisados, como praças e galpões emprestados, o que gera questões relacionadas à segurança e à qualidade do som e da luz. “Quando você tem que lidar com tudo por conta própria, desde a montagem do palco até a segurança, fica tudo mais complicado. Mas a vontade de fazer acontecer é maior que os obstáculos”, explica Gabriel Velas, o “GZK”, um dos artistas de Tatuí, e produtores da cena independente.

Gabriel Velas, ou GZK, é natural de Tatuí e movimenta a cena na região (Créditos: João Frizo)
 
A Influência das redes sociais
Um dos elementos mais marcantes dessa nova cena do Trap na RMS é o uso das redes sociais como principal ferramenta de divulgação e promoção. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube têm sido cruciais para conectar os artistas com seu público e promover os eventos de forma rápida e eficiente. “Sem as redes sociais, seria muito difícil chegar a tanta gente”, afirma GZK. “A gente posta os teasers, clipes, faz lives e interage diretamente com quem acompanha nosso trabalho. É uma forma de se conectar de maneira mais autêntica com o público”.

Além de facilitar a promoção dos eventos, as plataformas digitais também se tornaram um espaço de divulgação do trabalho autoral dos artistas. Muitos dos cantores e produtores independentes da RMS lançam suas músicas em plataformas como Spotify e SoundCloud, atingindo audiências muito além dos limites geográficos da região.

Os eventos, que mais tem público, são nas cidade de Boituva e Tatuí, onde a cena predomina (crédito: João Frizo)

Fortalecimento da cena Trap
Apesar dos desafios, a cena do Trap na RMS continua a se expandir. Os organizadores estão otimistas com relação ao futuro, especialmente se houver mais apoio institucional e patrocínios que permitam melhorar a qualidade dos eventos. A longo prazo, a expectativa é que o Trap possa se consolidar como uma das principais expressões culturais da região, com festivais maiores, parcerias e até a inserção em circuitos mais amplos da música brasileira.

A poesia das ruas
Nas esquinas esquecidas e nos becos grafitados, o Trap é uma cultura que vem transformando a realidade dura das ruas em arte viva. Mais do que batidas e versos, o Trap é um grito de sobrevivência, um manifesto de uma juventude que encontrou nas rimas sua forma de resistência. E é nas batalhas de rima que essa cultura ganha corpo e alma, abrindo espaço para que talentos mostrem suas vozes e seus sonhos. Como conta Matheus Salles, que despertou o gosto pela música nesses encontros: “Essas batalhas me mostraram que finalmente a minha voz pode ser ouvida.”

Onde oportunidades nascem
O palco improvisado de uma batalha de rimas, seja no calçadão de Salto de Pirapora ou em qualquer canto da região, é muito mais do que um lugar de disputas verbais. É ali que muitos jovens descobrem que sua voz tem poder. Cada verso é uma chance, cada rima é uma chave que pode abrir portas para um futuro novo. Foi o que aconteceu com Matheus Salles, que começou frequentando as batalhas de rima no calçadão. O movimento, que acontecia regularmente, revelou para Matheus um talento que ele nem sabia que tinha, mas que já o fascinava. A partir dali ele mergulhou de cabeça no mundo da música.

Com a popularidade das batalhas, Matheus passou a divulgar suas rimas nas redes sociais, que logo se tornaram seu principal instrumento de trabalho. O impacto foi imediato: começaram a surgir convites para shows, gravações de músicas, e seu nome começou a ser reconhecido. Matheus reconhece que o Trap salvou sua vida no momento em que ele mais precisava de uma saída. “Foi por meio da batalha que eu encontrei meu caminho, me inspirei a gravar, a fazer shows, e hoje meu sonho é viver da música”, conta.

Matheus Salles fazendo show público no calçadão- Salto de Pirapora SP (Foto: Instagram)
 

O Produtor por trás das Batalhas
Igor, produtor das batalhas de rima na região, carrega um orgulho silencioso ao falar sobre os frutos que essas disputas de versos têm gerado. “Eu me sinto realizado por fazer parte do “coração” do Trap. Já vi muitos meninos que participavam só pela resenha, e hoje são artistas de talento reconhecido”, diz ele. Um exemplo disso é Tristão, conhecido pela música “Jairo”, que ganhou fama ao trazer à tona ícones de Salto de Pirapora em uma melodia descontraída. “Ver alguém sair das ruas, das dificuldades, e encontrar seu espaço na música, isso é o que move a gente”, completa.

Batalha de Rimas- Capivari SP (Foto: Divulgação)
 
A nova geração do Trap e a ocupação de espaços
Os eventos independentes de Trap na RMS não são apenas um espaço para a música; eles também estão criando um impacto cultural significativo na região. Ao ocupar espaços públicos e privados de forma criativa, esses eventos se tornaram um ponto de encontro para jovens que muitas vezes se sentem excluídos dos eventos culturais mais tradicionais. Essa ocupação dos espaços também carrega um forte simbolismo de resistência e autovalorização da cultura periférica.

A importância desses eventos vai além do entretenimento, servindo como catalisadores para a criação de uma cena cultural consolidada e como um meio de afirmação da identidade juvenil. “Quando fazemos um evento em uma praça ou em um galpão, estamos dizendo que aquele espaço também nos pertence, que nossa música tem valor e que a periferia também pode produzir cultura”, afirma Hayga. Esse movimento também tem gerado uma troca intensa entre artistas, que se conectam e colaboram em projetos, fortalecendo ainda mais a cena.

O Trap e as batalhas de rima não são apenas uma moda passageira, mas uma revolução cultural e social. Para cada jovem que sobe ao palco improvisado com o microfone na mão, há uma história de superação e transformação. Matheus Salles, Igor, Tristão, e tantos outros são prova viva de que o movimento pode mudar trajetórias, inspirar sonhos e abrir portas que antes pareciam inacessíveis.

Assim, nas ruas, o som do Trap continua ecoando, como o bater do coração de uma juventude que encontrou, nas rimas, um novo rumo. “O mundo do Trap segue salvando vidas, tirando as pessoas das sombras e trazendo para o centro da cena, onde o talento é rei e a arte é o caminho”, conclui Hayga.

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